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terça-feira, 3 de março de 2009

"Há palavras que nos beijam"

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

"O Grito da Gaivota"


“Somos uma minoria, os surdos profundos de nascença. Com uma cultura específica e uma língua específica. Os médicos, os investigadores, todos os que querem transformar-nos a qualquer preço em ouvintes põem-me os cabelos em pé. Fazerem-nos ouvintes é aniquilar a nossa identidade. Querer que à nascença deixe de haver crianças «surdas» é desejar um mundo perfeito. Como se quiséssemos que fossem todos louros, com olhos azuis, etc.
Então deixava de haver negros, pessoas duras de ouvido?
Porque não se há-de aceitar a imperfeição alheia? Toda a gente tem alguma coisa de imperfeito. Em relação a vocês, que ouvem, a Emmanuelle é imperfeita. Está previsto que se nasça com ouvidos para escutar e boca para falar. Todos iguais. Ser-se o mais possível idêntico ao parceiro do lado. (…)”

Emmanuelle Laborit, O Grito da Gaivota #6.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

"Relações Perigosas"


“ (…) Um ligeiro choque de alerta apossou-se dela quando sentiu a firmeza da mão dele. Permitiu que ele a conduzisse para o abrigo de uma porta e tentou disfarçar o sentimento de inquietação, fingindo interessar-se atentamente pelas redondezas.
Half Crescent Lane era uma apertada travessa em curva. Torcia-se por um estreito vale, densamente sombrio, formado por indistintas paredes de pedra. Não era nunca, decerto, um local ensolarado, mas, num dia como aquele, estava envolto em trevas lúgubres.
Tobias bateu à porta firmemente. Soaram passos lá dentro. Um momento depois, apareceu a governanta velha que pousou o olho estrábico em Tobias.
- O que é que quer? – inquiriu a alta voz, como fazem as pessoas duras de ouvido. (…)”

Amanda Quick, Relações Perigosas #1.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

"Carta de Despedida"

Vi isto aqui no Improviso Repentino, e não consegui resistir em dedicá-lo à M, espero que sejas bem velhinha e ainda leias os livrinhos deste grande escritor!

"Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem.
Ouviria quando os outros falam, e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate! Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o meu corpo, mas também a minha alma.
Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua.
Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas...
Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor.
Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar!
A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o tem agarrado para sempre.
Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer..."

Gabriel García Márquez

domingo, 25 de maio de 2008

"O Filho de Thor"

Estava com umas certas saudades de postar um livrito no blog, mas não tenho andado a ler nada ultimamente :( portanto cá vai mais um que li algures e gostei :)

“- Hum, Hum. – Era claro, pelo tom de Rona, que acreditava tanto naquela previsão como a própria Nessa. Enquanto ouviam, sentadas, o vento que rugia no exterior, batendo nas janelas, fazendo com que as traves do tecto batessem nas paredes, sabiam que o futuro mudara no momento em que o guerreiro entrara no lugar proibido. Ele quebrara um padrão; não alterara apenas o próprio destino, alterara também o delas. (...)”

Juliet Marillier, O Filho de Thor #2.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

"A Hora do Mocho"


"(...) - Acho que um comunicado desses nos faz parecer bastante simplórios - observou sem rodeios Rich Stevens.
- Eu quero que passemos por papalvos - ripostou Sam. - Quero que quem anda por aí a monte nos considere uma cambada de imbecis. Caso Laura ainda se encontre viva, antes de termos uma hipótese de a salvar não me interessa que o tipo entre em pânico. (...)"

Mary Higgins Clark, A Hora do Mocho #1.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

"A Pocket Full of Rye"


Para o P, que consegue gostar mais de Aghata Cristie que eu! A escritora que me fez gostar de policiais :)

"It started with a spot of tea. It ended in tragedy when the wealthy Rex Fortescue sipped his last cup, fell suddenly sick, and died. The only clue was the victim's 'pocketful of rye'. The murder seemed without rhyme or reason - until the shrewd Jane Marple recalled her childhood nursery rhyme 'Sing a Song of Sixpence'. Murder though, is anything but child's play."

Agatha Christie, A Pocket Full of Rye.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

"Memória Das Minhas Putas Tristes"


"(...) Uma das secretárias ajudou. Se calhar á um segredo delicioso, disse, e fitou-me com malícia. Ou não? Uma lufada ardente incendiou-me a cara. Maldita seja, pensei, que desleal é o rubor. Outra, radiante, apontou-me com o dedo. Que maravilha! Ainda tem a elegância de se ruborizar. A sua impertinência provocou-me outro rubor por cima do rubor. Deve ter sido uma noite de ataque, disse a primeira secretária: Que inveja! E deu-me um beijo que me ficou pintado na cara. Os fotógrafos encarniçaram-se. Ofuscado, entreguei a crónica ao chefe de redacção e disse-lhe que o que tinha dito antes era uma brincadeira, aqui a tem, e escapei atordoado pela última salva de palmas, para não estar presente quando descobrissem que era a minha carta de renúncia ao fim de meio século de granéis. (...)"

Gabriel García Márquez, Memória Das Minhas Putas Tristes #2.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

"Memória Das Minhas Putas Tristes"


Bigada M ADOREI! :D

"A verdade é que toda a tarde a sentia a arder como uma brasa no bolso, mas a emoção calara-me tão fundo que não tive coração para estragar a festa com a minha renúncia. Disse: Por esta vez não há. O chefe de redacção aborreceu-se por uma falta que tinha sido inconcebível desde o século anterior. Entenda de uma vez, disse-lhe, tive uma noite tão difícil que amanheci embrutecido. Pois devia ter escrito isso, disse ele com o seu humor de vinagre. Os leitores gostarão de saber em primeira mão como é a vida aos noventa.(...)"

To be continued...

Gabriel García Márquez, Memória Das Minhas Putas Tristes #1.

segunda-feira, 31 de março de 2008

"O Grito da Gaivota"

“Ouvir, quero lá saber! Não me apetece, não me faz falta, não sei o que é. Não se pode desejar uma coisa que se ignora. (…)”

Emmanuelle Laborit, O Grito da Gaivota #5.

segunda-feira, 17 de março de 2008

"Máscara de Raposa"

“(…) Essa pode ser a lição mais difícil deste mundo, não conseguir evitar o inevitável. Ficar a olhar enquanto outros destroem a tarefa que sabes poder desempenhar na perfeição. É uma lição difícil de engolir. Para alguns, é impossível não fazer qualquer coisa, não lutar. Sabem que estão a fazer o que está certo, o que deve ser feito; como é possível não tentar? No entanto, numa ocasião como esta, a acção só piora as coisas. Um enigma. (...)”

Juliet Marillier, Máscara de Raposa #3.

segunda-feira, 3 de março de 2008

"Estrada de Morrer"

“(…) - Não interessa. O que importa é fugirmos. Há tanta coisa a fazer lá fora: protestar, organizar, manifestar. Escrever. E viver! Até isso é importante: a nossa vida! A nossa miserável vida… O cabelo há-de nos crescer outra vez. Seremos aparentemente como os outros. Havemos de ver os nossos filhos brincar…
Sim, a nossa liberdade! Nem posso acreditar… Respirar toda a clorofila dos bosques de Monsanto, mastigar os lírios da primeira Primavera, mexer outra vez num automóvel, guiar, envolver o dia nos braços, comer com os amigos, amassar esperanças com a argila encarnada das palavras e dos risos! (…)”

Urbano Tavares Rodrigues, Estrada de Morrer #5.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

"Equador"


“(…) O ciúme é irracional: alimenta-se do seu próprio sofrimento e é como se só conseguísse saciar-se e acalmar-se quando tudo o que de pior imaginou se torna real e nítido e visível. O ciúme é uma dúvida doentia que cresce como um cancro e a que só a certeza de já não haver lugar para dúvidas pode trazer, pelo menos, o bálsamo de pôr fim a essa angústia, a esse enxovalho de viver permanentemente à procura dos sinais da traição. Quanto mais chocante for a evidência, quanto mais real for o real da traição, mais o ciúme se sente recompensado, redimido, quase digno de respeito. Por isso, ele deu consigo a percorrer os passos que lhe faltavam até poder espreitar, através das cortinas, para dentro do quarto. E, passo após passo, aproximou-se então do seu encontro com o destino, ao qual viera. (…)”

Miguel Sousa Tavares, Equador #7.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

"Máscara de Raposa"


“(...) - O que é que despoleta essa tua maldição? A acção ou a inacção? O que é que tu fizeste mal, no fim de contas? Nós não podiamos ter recusado abrigo à rapariga, sabendo o que sabemos acerca de Asgrim. Fui eu que a levei, não tu. Foi Colm que se ofereceu para ir ao acampamento. Não creio que possas considerar-te como culpado deste desastre, Niall.
- Não – Disse Niall – talvez não. Mas pergunto a mim próprio por que razão Creidhe e os amigos terão vindo às Ilhas Perdidas!
- Ah. O passado segue-nos. É verdade, o passado não pode ser refeito. (...)”

Juliet Marillier, Máscara de Raposa #2.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

"Contos"

"(...) - Tu estás morto ou vivo? - perguntou.
O homem encolheu os ombros com lentidão.
-Senhor, não sei... Quem sabe o que é a vida? Quem sabe o que é a morte?
- Mas que queres de mim?
O enforcado, com os longos dedos descarnados, alargou o nó da corda que ainda lhe laçava o pescoço e declarou muito serena e firmemente:
- Senhor, eu tenho de ir convosco a Cabril, onde vós ides.
O cavaleiro estremeceu num tão forte assombro, repuxando as rédeas, que o seu bom cavalo empinou como assombrado também.
- Comigo a Cabril?!...
O homem curvou o espinhaço, a que se viam os ossos todos, mais agudos que o dentes de uma serra, através de um longo rasgão da camisa de estamenha.
- Senhor - suplicou -, não mo negueis. Que eu tenho a receber grande salário se vos fizer grande serviço! (...)"

Eça Queirós, Contos, O Defunto #3.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

"Mulher Procura Homem Impotente Para Relacionamento Sério"


“(…) - Olá David! É a Carmen. Então como é que estás?
- É bom ouvir-te. Tenho saudades. É como se me furassem, puxassem e arrepelassem o corpo todo. É um raio de uma sensação esquisita!
- Pensava que era uma boa sensação!
- Isso depende de eu ter de ficar sozinho com as minhas lamúrias. Se tiveres a mesma doença é fantástico. Lá isso é verdade!
- Bem, também estou ansiosa por te ver!
- Óptimo, então aparece! (…)”

Gaby Hauptmann, Mulher Procura Homem Impotente Para Relacionamento Sério #2.

domingo, 20 de janeiro de 2008

"Horas Más"


Parece-me que ando a ler demais, mas tudo tem uma razão de ser.

"(...) O alcaide contemplou os animais adormecidos pelo calor. As jaulas exalavam um vapor azedo e quente e havia uma espécie de angústia sem esperança na respiração pausada dos animais. O empresário acariciou com a chibata o nariz de um leopardo que se torceu num estremecimento lamentoso. (...)"

Gabriel García Márquez, Horas Más #1.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

"Máscara De Raposa"


"(...) O manuscrito era um trabalho extremamente artístico, uma criação que rivalizava com a Jornada e, certamente, realizado com o mesmo amor e carinho. – De certo modo, a resposta é a mesma. A nossa regra está aqui escrita: boa, mas restrita. A minha própria regra é ainda mais rigorosa, imposta de acordo com um voto, assim como a disciplina que todos seguimos, mas mais áspera e mais particular no meu caso. – O seu olhar deixou o pergaminho e fixou-se na distância, como se tivesse visto algo ao longe, ou há muito tempo. A intensa escuridão daqueles olhos evocava uma imagem de Thorvald no alto da falésia, cabelos ao vento, a carta do pai na mão e palavras amargas nos lábios. – Para alguns homens e para algumas mulheres, suponho – continuou Niall – a maior dificuldade é não poder agir quando sabem que podem ter alguma influência no mundo; (...)"

Juliet Marillier, Máscara De Raposa #1.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

"O Filho de Thor"

Dizem que é a sucessora de Marion Zimmer Bradley, mas para mim é muito melhor!

"(...) O animal estava imóvel, o olhar dourado cada vez mais esbatido enquanto as mãos de Eyvind se agarravam implacavelmente ao seu pescoço. O lobo sangrava da boca e do ventre; Eyvind sabia que o seu próprio sangue jorrava de inúmeros ferimentos no seu corpo, no peito, no ombro, no rosto, nas mãos, algures num outro mundo. Olhou para os olhos do seu adversário e a verdade devolveu-lhe o olhar. Chegara o momento: o momento da mudança. Sem palavras, reconhecendo apenas a hierarquia do grupo, a liderança; reconhecendo aquele ser selvagem, livre, forte. Depois, a sombra e a escuridão. O lobo estremeceu e vacilou. Os olhos brilhantes enevoaram-se e ficaram sem expressão. O tempo de respirar pela última vez, de sentir o cansaço dos ossos, dores em todo o corpo e um súbito frio feroz, que lhe entorpeceu o coração e lhe gelou o sangue. Apenas por um instante; então, com um som sussurrante e comovente, o círculo de seres aproximou-se dele. O mundo cambaleou; as estrelas começaram a mudar de posição e de forma. Para além deles, pareceu-lhe ver um homem, um homem grande, alto, com uma máscara de lobo e olhos brilhantes, dourados, que lhe disse: Bom trabalho filho. Então, a escuridão caiu também sobre Eyvind. (...)"

Juliet Marillier, O Filho de Thor #1.

domingo, 9 de dezembro de 2007

“O Último Dia de Um Condenado”

“Mas aquele bom velho, o que é para mim? O que sou para ele? Um indivíduo de espécie infeliz, uma sombra como já viu tantas, uma unidade para acrescentar ao número de execuções.
Talvez esteja enganado ao rechaçá-lo assim; ele é que é bom e eu é que sou mau. Infelizmente, a culpa não é minha. É o meu sopro de condenado que estraga e faz murchar tudo.”

Víctor Hugo, O Último Dia de Um Condenado #3.