quarta-feira, 16 de abril de 2008

"Memória Das Minhas Putas Tristes"


"(...) Uma das secretárias ajudou. Se calhar á um segredo delicioso, disse, e fitou-me com malícia. Ou não? Uma lufada ardente incendiou-me a cara. Maldita seja, pensei, que desleal é o rubor. Outra, radiante, apontou-me com o dedo. Que maravilha! Ainda tem a elegância de se ruborizar. A sua impertinência provocou-me outro rubor por cima do rubor. Deve ter sido uma noite de ataque, disse a primeira secretária: Que inveja! E deu-me um beijo que me ficou pintado na cara. Os fotógrafos encarniçaram-se. Ofuscado, entreguei a crónica ao chefe de redacção e disse-lhe que o que tinha dito antes era uma brincadeira, aqui a tem, e escapei atordoado pela última salva de palmas, para não estar presente quando descobrissem que era a minha carta de renúncia ao fim de meio século de granéis. (...)"

Gabriel García Márquez, Memória Das Minhas Putas Tristes #2.

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