domingo, 28 de outubro de 2007

"Contos"


Para mim, o pai da ironia.

“(…) Adrião via-a de perfil, um pouco curvada, esburacando com a ponteira do guarda-sol as ervas bravas que invadiam os degraus: era deliciosa assim, tão branca, tão loura, de uma linha tão pura sobre o fundo azul do ar: o seu chapéu era de mau gosto, o seu mantelete antiquado, mas ele achava nisso mesmo uma ingenuidade picante. O silêncio dos campos em redor isolava-os – e, insensivelmente, ele começou a falar-lhe baixo. Era ainda a mesma compaixão pela melancolia da sua existência naquela triste vila, pelo seu destino de enfermeira… Ela escutava-o de olhos baixos, pasmada de se achar ali tão só com aquele homem tão robusto, toda receosa e achando um sabor delicioso ao seu receio… Houve um momento em que ele falou do encanto de ficar ali para sempre na vila.
- Ficar aqui? Para quê? – perguntou ela, sorrindo.
- Para quê? Para isto, para estar sempre ao pé de si…
Ela cobriu-se de um rubor, o guarda-solinho escapou-lhe das mãos. (…)”

Eça de Queirós, Contos, No Moinho #1.

2 comentários:

David disse...

Olha, tenho este livro! Já o devo ter lido, embora não me lembre de nenhum dos contos! Não vou muito à bola com o estilo descritivo do Eça de Queirós! Mas que ele escreve bem, lá isso escreve!

rock disse...

Eu gosto bastante do nosso Eça! :) admito que as descrições às vezes sejam um pouco pesadas (e algumas desnecessárias mesmo) mas faz parte do estilo dele, obviamente que o que gosto mais é aquele gostinho a ironia :D os finais das histórias surpreeendem sempre! Nem que seja pela negativa. Este conto por exemplo, tem um final que para mim até foi de mau gosto, roça quase o desagradável! Não é dos meus preferidos, mas podes ler A Aia que eu gostei muito e O Tesouro pronto toda a gente já o leu, nem que fosse nas aulinhas de Português... :D **