quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Nevoeiro


Acordo de manhã, o ar frio arrepia-me quando me levanto, olho novamente para a cama, mas decido-me a ir até à casa de banho. A água fria desperta-me e esfuma os meus sonhos. Novamente no meu quarto, olho pela janela e deparo-me com o nevoeiro, dois pombos namoram no cimo do prédio da frente e lembro-me, esboço um sorriso irónico e contenho as lágrimas na garganta. O nevoeiro continua a espelhar-se nos meus olhos, sento-me na cadeira e enrolo-me sobre mim própria, penso no que sou e ninguém vê, penso no que fui e podia ter sido, penso no que poderei ser ou não. Oiço o tique-taque que nunca pára, e tenho medo, medo de o atravessar e me perder pelo caminho, fecho os olhos e espero que ele se dissipe, ou que alguém me obrigue a deixá-lo.
Não tenho jeito para isto, mas também sei que a solução não é esta. Levanto-me. Entrego-me à rotina de todos os dias, comer, vestir, respirar. Arrastar-me até ao emprego gasto e às horas penosas, não era isto que eu queria, mas foi isto que achei. Será que o problema está na procura ou na escolha? Talvez não deva pensar, mas é inevitável. Quando tudo à minha volta parece sorrir, a mim só me apetece gritar! Se calhar já me perdi e não dei conta.
Engraçado como tudo muda quando parece planeado de antemão, já não tinha decidido que seria assim? Parece que o destino nos prega sempre partidas, realmente tem mais sentido de humor que eu. Faço-te má cara quando apareces, não estavas à espera, pois eu também não. No final sinto-me culpada do meu comportamento, mas e depois? Continuas a ser um desconhecido.

5 comentários:

David disse...

Foste que escreveste?? Se sim, acho que podes continuar! =) Não vou fazer a parvoíce que nos obrigavam a fazer na escola: tentar interpretar o que escreveste! Vou apenas dizer que: adoro nevoeiro!

SinemaS disse...

Em breve o nevoeiro se dissipará e o mar revolto amansará translucido, terás novamente o brilho do sol no teu sorriso e o céu definido na linha do olhar. O passado é já cinza queimada que voou borda fora, como quem invoca a razão. PÁRA! É PRESENTE AGORA! É FUTURO AMANHÃ! Vês como é tão simples voltar? E tão fácil mudar? Afinal tudo tem um sentido... mesmo que o mesmo não aparente ter qualquer sentido.

:)***

P.s.: Tá dificil eu voltar... espero em breve.

rock disse...

David: Sim fui eu. Não sai todos os dias, mas quando sai acho que é de aproveitar :) ainda bem que gostas. Mas pessoalmente gosto mais de sol. jinhos**

SinemaS: Bigada pela tua interpretação, é uma das muitas parece-me. No entanto, espero que tenhas razão. Realmente olho um pouco em demasia para trás, mas é porque nem sempre o passado foi mau. jinhos**

Mãos de Veludo disse...

Meu Anjo... ADOREI!
n tenho criticas, só aplausos! e um brindezinho... um poema em que penso quase todas as manhãs:


1. The Road Not Taken


TWO roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth; 5

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same, 10

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back. 15

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, andI—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Robert Frost

rock disse...

Bigada linda :D sabes o quanto é importante o teu elogio, para mim! Afinal tu é que percebes destas coisas :D o poema está fantástico! Jinhos* e bigada :)